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Opinião

Trump ressuscita a fama da Tríplice Fronteira de Santuário do Terrorismo

Governo americano oferece 10 milhões de dólares por informações sobre o Hezbollah na fronteira com o Paraguai

Publicada em 24/05/2025 às 09:43h

Carlos Wagner


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Confesso que logo que ouvi a notícia no rádio, no final da madrugada de terça-feira (20), pensei que estava sonhado. Mas não estava. Vou contar a história. Escutei que o governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 78 anos, está oferecendo uma recompensa de 10 milhões de dólares (R$ 56,5 milhões) por informações que levem à descoberta de redes financeiras que arrecadam dinheiro na Tríplice Fronteira, no oeste do Paraná, entre Brasil (Foz do Iguaçu), Argentina (Puerto Iguazú) e Paraguai (Ciudad del Este), usado por financiadores e facilitadores do Hezbollah, que é descrito pelos americanos como uma organização política formada por paramilitares fundamentalistas islâmicos xiitas durante a Guerra Civil do Líbano, em 1980. O Hezbollah não é a única organização fundamentalista com interesses na região. Consta que passaram por Ciudad del Este e Foz do Iguaçu os responsáveis por dois atentados a bomba em Buenos Aires, capital da Argentina.

O primeiro atentado ocorreu em 1992. Um ataque suicida à Embaixada de Israel matou 29 civis e feriu 242. O segundo foi em 1994. A explosão matou 85 pessoas na Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA). Também se sabe que em 1995 Osama Bin Laden (1957–2011) passou três dias na Tríplice Fronteira. Ele era líder da Al-Qaeda, poderosa organização terrorista que, em 11 de setembro de 2011, sequestrou quatro aviões nos Estados Unidos, jogou dois contra as Torres Gêmeas, em Nova York, e um contra o Pentágono, em Washington, D.C. O último caiu e espatifou-se devido a uma briga a bordo entre os sequestradores, a tripulação e os passageiros. No total, foram mortas 2.977 pessoas nestes atentados – há filmes, livros, centenas de reportagens e inúmeras pesquisas disponíveis sobre os três episódios que citei, especialmente o 11 de setembro, que foi um divisor de águas na luta contra o terrorismo. Pelo fato dos envolvidos nestes três atentados terem passado pela Tríplice Fronteira, o Departamento de Estado americano chamou a região de “Santuário do Terrorismo” em um dos seus relatórios anuais, em que fornece informações sobre ações terroristas e medidas de contraterrorismo em diversos países. Por uma destas coincidências da vida, em 11 de setembro de 2011 eu estava envolvido com uma reportagem sobre terrorismo nas fronteiras do Brasil, em especial com a do Paraguai. O objetivo da matéria era lançar luzes sobre um bate-boca entre as autoridades brasileiras e americanas. Os Estados Unidos acusavam o Brasil de não dar atenção à presença de terroristas nas suas fronteiras. Os brasileiros rebatiam as acusações negando a existência de terroristas nestas regiões. Fui escolhido para fazer a matéria não porque entendesse de terrorismo. Mas porque era especializado em crime organizado nas fronteiras. Portanto, sabia quem era quem no rolo. Um conhecimento fundamental para não escrever bobagem. Aconselhado por uma fonte ligada ao Serviço de Inteligência da Polícia Federal (PF), viajei para Buenos Aires, onde conversei com os investigadores dos casos da embaixada e da AMIA. Falei com muita gente, incluindo agentes de Israel.

Fiquei quase dois anos envolvido com reportagens a respeito dos reflexos do 11 de setembro na Tríplice Fronteira. E também na fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai. Ficaram muitos símbolos desta época. Vou citar dois que têm ligações com a nossa conversa. O primeiro é os presídios clandestinos instalados pelos americanos em vários cantos do mundo para interrogar suspeitos de terem ligações com Bin Laden. Ganhou fama a prisão da base militar americana na Baía de Guantánamo, em Cuba. Há muitos documentos sobre estes presídios. O segundo símbolo que vou citar é o tremendo volume de informações acumulado pelos serviços de inteligência dos Estados Unidos e seus aliados, incluindo o Brasil, sobre a movimentação de terroristas fundamentalistas ao redor do planeta. Não existem mais segredos sobre quem é quem na Tríplice Fronteira. Então, vem a pergunta que me fiz quando ouvi no rádio a conversa da recompensa. Por que o governo Trump ressuscitou a prática de pagar por informações a respeito de financiadores de movimentos terroristas na Tríplice Fronteira? Antes de responder vou dar uma informação que considero importante. Em primeiro lugar, os americanos sabem que depois do 11 de setembro os cartéis de traficantes, quadrilhas de lavadores de dinheiro e outros criminosos tiveram o cuidado de não incluir em suas fileiras pessoas suspeitas de terem ligações com movimentos terroristas porque elas atraem a atenção das autoridades. E o mais importante: uma coisa é ser preso por tráfico de drogas. Outra, por terrorismo. A conversa é bem diferente.

Agora, respondendo à pergunta. O presidente americano é um “homem da mídia”, o que significa que tudo que faz é pensando nas manchetes dos jornais. Uma coisa é afirmar que irá combater os cartéis de droga ao redor do mundo. Não é novidade. Outra coisa é o que ele fez nos primeiros 100 dias do seu governo, declarando seis cartéis de varejistas de droga mexicanos como organizações terroristas. Na ocasião, circulou a notícia de que os brasileiros Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, também poderiam ser declarados organizações terroristas por Trump. Liguei para fontes que tenho nas fronteiras com o Paraguai, a Argentina, o Uruguai e a Bolívia para conversar sobre a história do presidente americano colocar no mesmo saco terroristas, traficantes, lavadores de dinheiro e outros criminosos comuns. Um deles lembrou um detalhe que considerei importante. Disse que isso vai dificultar o trabalho dos agentes em campo, porque os chefes das organizações criminosas vão mandar todos os seus capangas calarem a boca. Conheci esta fonte na década de 80 e tenho um enorme respeito pela qualidade das suas análises, que têm como característica serem “pé no chão”, uma gíria entre os investigadores para definir realista. Aprendi no primeiro mandato de Trump (2017–2021) que tudo que for manchete de jornal o interessa. Ou seja, ele não está nem aí para as dificuldades que os agentes vão ter no seu trabalho em campo.




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